Exposição de arte também é para crianças

Iniciar a vida cultural das crianças requer envolvimento dos pais, apresentando e participando ativamente das visitas.

Filhos se interessando por arte desde cedo, frequentando (com gosto) museus e exposições, é o sonho da maioria das mães, não é mesmo?

Apesar disso, sempre bate a dúvida sobre a hora certa de iniciar os pequenos nas atividades culturais. Qual a idade adequada? Qual o conteúdo indicado para despertar o interesse? Quais exposições são melhores? Onde levar?

O primeiro detalhe a saber é que, para se acostumar desde sempre a viver em meio às artes, o ideal é que a criança seja inserida na programação cultural da família assim que ela for liberada pelo pediatra para frequentar espaços fechados.

“Há museus que recebem bebês a partir de 3 meses para visitas sensoriais”, conta Tatiana Levy, gerente socioeducativa do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil (MIAN), um desses exemplos.

As crianças vão mesmo começar a se interessar pelo assunto lá por volta dos 3 anos, quando cabe a você falar sobre o que é um museu, para que ele serve, comentar sobre a exposição a ser vista – se for de um artista publicado, vale mostrar o livro, o site ou o e-book com imagens das obras.

Assim, o pequeno começará a relacionar a visita à exposição de arte a uma experiência positiva e concreta, pois o interesse e a apreciação pelo que ele está conhecendo vai ser muito mais intenso.

Ao escolher a exposição, opte por aquelas que envolvam toda a família ou que tenham uma conexão natural com os gostos da criança. Qualquer evento artístico pode ser legal, desde que o interesse por ela seja real, intrínseco.

Pode ser uma exposição de arte, de ciência, de história ou qualquer outra que seu filho ache interessante.

Pequenas, mas importantes, regrinhas:

Antes de ir a qualquer exposição, é recomendado dar uma olhada no site da instituição para saber se existem regras ou dicas especiais para os pequenos – se são oferecidas visitas mediadas, atividades e oficinas, por exemplo.

Um pouco antes da entrada, é bacana explicar as regras à criança, como respeitar as faixas de demarcação, usar um tom de voz mais baixo e só tocar no que for permitido.

Durante a exposição, mostre as obras, aponte o que atrai ou repele em você e peça para seu filho interagir também, falando o que chama a atenção dele. É válido contar sobre quem a fez, mostrar figuras humanas, cores, bichos ou até contar uma história inspirada pela obra. Só o necessário.

“A interação entre pais e filhos é muito importante, mas não é necessário explicar tudo. Às vezes, explicações demais estragam a experiência estética, o prazer de descobrir e a curiosidade natural das crianças”, explica Tatiana.

A gerente socioeducativa também recomenda dizer apenas a explicação técnica: sobre o pintor, o objeto, a época, a técnica usada, o contexto histórico, o lugar de onde ele veio e, principalmente, sobre como a obra ou objeto faz os visitantes se sentirem.

É interessante, também, fazer algo pós-exposição, como conversar com a criança sobre a vivência ou pedir para que ela faça um desenho para estimular e prolongar essa experiência. Em casa, sugira brincadeiras, como montar uma exposição caseira utilizando objetos de mesma cor, ou construir obras com peças de montar.

Vale usar a imaginação pois, brincando, como é natural e necessário ao desenvolvimento infantil, a criança vai entendendo o fazer artístico, o colecionismo, os motivos de expor, e frequentar exposições será um programa bacana e significativo para ela.

Thais Rossi

Professora de Artes

O cantinho do pensamento adianta?

Muitas pessoas me perguntam sobre os castigos, se é certo dar uma palmadinha de vez em quando, se o “cantinho do pensamento”, ou “cadeirinha do limite” resolvem. Enfim, o que fazer quando os filhos e alunos desobedecem.

Em primeiro lugar, creio que o mais importante seja dizer que não se deve bater nos filhos, aliás, não se deve bater em ninguém. Bater é covardia, é uma forma muito primitiva de resolver conflitos. Nós, humanos, dotados de capacidade de pensamento, temos que ter outras formas de solucionar impasses.

Quando um pai ou uma mãe batem numa criança, mesmo que ela desobedeça, estão mostrando que perderam o controle da situação, estão fracos.

Além disso, estão passando uma mensagem para ela, de que isso é permitido, estão autorizando a violência. Sim, porque pais são modelos, se os pais fazem, a criança também tem direito de fazer. Quando pais batem em filhos, estão sendo covardes… é uma mão grande batendo numa criança pequena.

E não resolve, só gera medo. Vocês acham bom que os filhos tenham medo dos pais?

E o “cantinho do pensamento?”, adianta?

Bom, qual é a finalidade de mandarem a criança “pensar” a cada ato errado que ela fizer? Quem garante que lá no cantinho ela está realmente pensando no assunto, que sabe por que está sendo punida? Muitas crianças relatam que gostam de ir para o cantinho, assim têm tempo para pensarem na vida… em tudo, menos na questão que as levou para lá.

Cantinhos do pensamento não adiantam, não resolvem. Podem até solucionar o conflito na hora, mas não educam, não geram aprendizado nenhum.

Vejam algumas dicas:

Crianças precisam conhecer as regras de antemão, seja da casa, ou da escola. Isso dá segurança, assim elas mesmas sabem quais são as expectativas em relação a elas.

As regras precisam ser claras e objetivas, criança não entende quando adultos falam demais.

Ao conhecê-las, também precisam saber quais serão as consequências em caso de descumprimento dessas regras.

Sabendo quais são as expectativas que temos em relação ao comportamento e as consequências em caso de não cumprimento, a criança compreende melhor sua responsabilidade, ou seja, que tem que fazer a sua parte no acordo.

Não é necessário criar um “cantinho do pensamento”, mas é sim cumprir o que foi combinado, pois isso será fundamental para que, numa próxima vez, a criança saiba que as consequências acontecem mesmo e que podem não ser boas para ela.

Pedir desculpas, de coração, também faz parte das responsabilidades das crianças. É necessário mostrar que algumas atitudes magoam, chateiam ou até dão raiva nas outras pessoas e que o pedido de desculpas, se não resolve, atenua, faz parte da boa educação e é regra de convivência social.

O cumprimento dos combinados é fundamental, pois quando os adultos ameaçam, ameaçam, mas nunca cumprem, as crianças logo captam essa dinâmica e, sabendo da impunidade, desobedecem, pois os adultos perdem credibilidade.

Vale ressaltar que, se seus filhos (ou alunos) andam desobedecendo demais, se vocês têm usado o cantinho como estratégia quase diária, certamente seus métodos não estão eficazes. Reavaliem seus sistemas, talvez seja a hora de ameaçar menos e ser mais firme nas decisões.

Lembrem-se: bater não é o caminho, castigar não é o caminho. Pode até não traumatizar, mas não é justo.

Conversem, dialoguem, combinem, deem responsabilidades, cobrem.

Ofereçam modelos de boa educação, de respeito, de diálogo.

Isso funciona!

Marieta Lefèvre
Coordenadora Pedagógica Educação Infantil
Pedagoga, psicóloga e Psicopedagoga Infantil