Muitas famílias estão enfrentando agora a difícil tarefa de conciliar a rotina de trabalho (para muitos, de casa) com as crianças (também em casa!) e de assumir os papeis de cuidador e educador ao mesmo tempo, de forma integral. É, sem dúvida, uma virada brusca de rota para pais e mães, mas também para crianças, que estão vendo seu dia a dia virar de cabeça para baixo.
Em momentos incertos, que trazem mais perguntas do que respostas, é comum buscarmos fórmulas mágicas que colocam tudo em ordem, num piscar de olhos. Mas não é bem assim que a vida funciona, não é mesmo? Uma solução que cai como uma luva para uma família pode não funcionar para outra. Agora, uma coisa é certa: desesperar-se não vai facilitar a busca por alternativas. Pelo contrário, só trará ainda mais angústia e ansiedade para todos os envolvidos.
Conversamos com Ana Célia Mustafá Campos, diretora pedagógica das escolas Builders Educação Bilíngue e Garatuja Educação Infantil. Ela é mãe de um rapaz de 18 anos, que está se formando no high school no estado norte-americano da Virgínia e em breve vai iniciar a vida acadêmica em Madri, e de uma menina de 15 anos de idade que está começando o Ensino Médio. Educadora há mais de 20 anos, ela compartilha conosco os pontos que considera essenciais para ajudar você e sua família a se organizar e vivenciar essa experiência com mais tranquilidade, equilíbrio e foco.
A escola mantém atividades on-line? Então, tenha uma área reservada para os estudos.
Escolha um local em sua casa onde a criança possa sentar e ter foco. Longe de distrações como brinquedos e eletrônicos, as chances dela se envolver com as atividades escolares são bem maiores. Em condições normais, o lar está relacionado a descanso e brincadeiras. Em momentos adversos como o que estamos vivendo atualmente, esse “espaço de lazer” se transformou em alguns casos em uma escola temporária. Logo, estabelecer um cantinho dedicado aos estudos é essencial.
Estabeleça um cronograma que funciona para a sua família.
Qual a sua rotina? A que horas você e sua família estão acostumados a despertar? Qual o horário para o café da manhã? Enfim, como as coisas estavam organizadas antes de entrarem em isolamento social? Uma possibilidade é permanecerem no que era o cronograma normal para todos em sua casa. Uma outra é repensarem uma nova rotina, ajustando horários e afazeres , deixando-os à vista para todos lembrarem das novas responsabilidades e acordos.
Pausas são necessárias.
Quando estão na escola, crianças não ficam o tempo todo sentadas na sala de aula. Há o horário do lanche, do parque, do almoço. Isso sem falar quando mudam de espaço dependendo da atividade que terão. Ou seja, a rotina escolar é dinâmica! Tente encaixar essas pausas em conjunto em seu dia a dia. Caso seu filho tenha atividades on-line da escola, organize os horários e espaço e lembre-se das pausas. Se perceber que qualquer um da família está irritado, perdendo o foco na tarefa ou agitado demais, parem um pouco, façam um lanche, escutem uma música para relaxar uns minutinhos. A paciência e a compreensão das necessidades de cada um vai ajudar muito na energia e dinâmica da casa.
Tenha paciência com seu filho.
Sabemos que cada criança é diferente e que elas também estão passando por um período de ajuste. Elas sentem a vibração dos adultos e da casa e respondem à altura. Se estiverem frustradas, demonstre amor e compaixão e ouça atentamente o que têm a dizer. Mas é importante lembrar que elas não estão vivenciando uma guerra civil e que, quando os pais têm bons modelos de convivência, regras claras e proporcionam momentos adequados, alimentação saudável, carinho e disciplina, as crianças respondem muito bem e se sentem seguras e confortáveis na nova rotina. O importante é garantir essa boa convivência, com regras claras em que todos podem e devem ajudar!
Você também precisa se cuidar.
Tenha tempo para você. Exercite-se, medite, ouça música, ligue (ou faça uma videocall) para um amigo, leia um livro. Invista no que te faz feliz e descanse!
Busque ajuda.
Estamos todos juntos! Por isso, uma rede de apoio é fundamental para enfrentarmos isso com mais leveza. Seja um amigo e conte com um para trocar ideias, rir, desabafar.
Toda mudança gera ansiedade, é normal, mas não deixe que você – e sua família – sejam dominados por ela. É importante lembrar que vocês, como núcleo familiar, se conhecem mais do que ninguém. Respeito e atenção às opiniões uns dos outros são fundamentais para que todos estabeleçam acordos que beneficiarão a família e sua convivência. E, se algo não funcionar, tudo bem recomeçar! Vamos encarar essa crise como uma oportunidade de trabalharmos a empatia e fortalecer os laços familiares!