Educar – Equilíbrio entre amor e disciplina

   Desde os primórdios da humanidade, a educação das crianças era de responsabilidade da família. Acompanhamos ao longo da história a valorização da criança e a necessidade da criação de um espaço que atendesse as necessidades da sua formação cultural, cognitiva e emocional. Desde então, a escola tem participado, cada vez mais, nesse processo, e compartilhado com as famílias esse tarefa.

   A escola é o primeiro lugar de convívio social fora do ambiente familiar e recebe crianças fruto de uma grande diversidade de modos de pensar, regras e valores, que fazem desse espaço um lugar único para o reconhecimento da diversidade em todas as suas formas.

   Que bom que isso acontece! A dimensão grupal é básica para o desenvolvimento completo do ser humano; por isso, um dos principais objetivos da educação é a formação de indivíduos aptos a conviver em sociedade. Educar nossas crianças é estimular nelas a capacidade de respeitar os objetos e as pessoas, além de ajudá-las a perceber o quanto essa atitude é benéfica para todos.

   O princípio básico da educação, de buscar o equilíbrio entre disciplina e amor, aplica-se em todas as situações do contexto escolar. São inúmeras as oportunidades em que as crianças são escutadas, atendidas e contempladas, pois tudo o que é proposto na escola é pensado para fazê-las felizes. Por outro lado, elas precisam entender que os “nãos” são absolutamente necessários e têm algum motivo importante.

   Um “não” ensina sobre limites e autocontrole, e faz com que os alunos entendam que regra é para ser seguida, como se fosse parte de um contrato, no qual todas as partes se beneficiam. Ao estipular normas de disciplina claras, estamos preparando-os para encontrar seu lugar no grupo, na sociedade e no mundo.

   Especialista em questões relacionadas à família e à escola, a psicóloga paulistana Rosely Sayão acredita que as crianças estão sendo educadas sob o peso da superproteção, o que as desconecta da realidade. O excesso de zelo também dificulta o desenvolvimento da resiliência, a capacidade de resistir às frustrações e adia a conquista da maturidade.

   “A gente não tem ensinado para os filhos que tudo tem um processo com começo, meio e fim. Por exemplo, ir a um aniversário. Tem o antes, que é pensar na pessoa, pensar no presente, sair para comprar o presente, pedir para os pais se pode ir, perguntar se os pais podem levar e buscar. Depois tem a festa, o desfrute, e depois da festa tem de ver quem vai buscar. Tudo fica com os pais e, para os filhos, é só ir à festa. Tomar banho é a mesma coisa: é só entrar debaixo do chuveiro. Não tem a organização da roupa e do banheiro, enxugar o banheiro. Nada disso, para os filhos, faz parte desse processo. Isso tudo é superproteção”, salienta a especialista.

   E quando as regras não são respeitadas? Da mesma forma com que recebemos uma multa quando cometemos uma infração de trânsito, precisamos ensinar as crianças a assumir a autoria dos seus atos. É indispensável que percebam que uma atitude positiva terá uma consequência positiva, ao passo que uma atitude negativa acarretará uma negativa.

   Educar dá trabalho e exige muita dedicação e empenho dos educadores, que, através de ações, intervenções e diálogo, mostram o que é bom e aceitável para o convívio em harmonia. Os alunos precisam participar ativamente desse processo para aprender a se responsabilizar pelo que fazem.

   Eles precisam ser ajudados a sentir, com amor e segurança, que estão no caminho certo…

 

Roxanna Nyczka Debeuz

Coordenadora Pedagógica do Ensino Fundamental

Bilinguismo

O bilinguismo sempre levantou dúvidas e diversos debates sobre seus benefícios e malefícios. Acreditava-se que crescer com duas línguas podia ser prejudicial à criança, trazendo-lhe mazelas linguísticas e algum outro comprometimento mental. Mas nos últimos 30 anos pesquisas têm mostrado que o aprendizado de línguas tem um impacto positivo na formação cerebral.

Muitos estudiosos defendem que o esforço mental que pessoas bilíngues fazem para usar diferentes línguas é responsável pelo fortalecimento das funções cognitivas e que pode até mesmo proteger o cérebro em idade mais avançada. No entanto, outros rebatem tal afirmação, dizendo que a ciência não é capaz de mostrar resultados eficazes.

Mas há um consenso entre eles de que há vantagens no bilinguismo para as funções cognitivas e também para funções culturais e sociais. Segundo Pasi Sahlberg, um dos protagonistas da política educativa que fez das escolas da Finlândia um exemplo internacional, “Quem aprende línguas estrangeiras, terá um cérebro preparado para aprender qualquer outra coisa”. Ele acredita que o sucesso de seu país está ligado à importância do aprendizado de outras línguas, já que essa é uma ferramenta de equidade, de oportunidade de acesso.

Baseada na minha experiência como educadora bilíngue por quase 20 anos, mãe de uma criança bilíngue e agora voluntária de uma ONG que vê no ensino de um idioma estrangeiro a possibilidade de equidade e empoderamento, a educação bilíngue pode ser considerada como vantagem para as crianças que aprendem uma segunda língua.

Vivo essa realidade diariamente e vejo o desenvolvimento e a aquisição da linguagem acontecerem de forma natural e contextualizada. Quando uma criança ingressa na escola bilíngue com dois anos, por exemplo, ela desenvolverá as duas línguas simultaneamente e usará o segundo idioma de forma espontânea. Conforme ela cresce, a necessidade do uso da língua deve se fazer presente, e o professor deve estimular e promover o discurso para que o aprendizado seja efetivo. Ao longo de sua vida escolar num ambiente bilíngue, ela será capaz de se expressar tanto oralmente como através da escrita usando a segunda língua. Portanto, o bilinguismo pode ser uma ferramenta importante no desenvolvimento infantil, auxiliando a formação de forma global e trazendo mais benefícios aos aprendizes de uma língua estrangeira.

Renata Salvador Domingues Leal
Professora

Fontes:
www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3322418/
www.theatlantic.com/science/archive/2016/02/the-battle-over-bilingualism/462114/
www.wired.com/2016/02/being-bilingual-changes-the-architecture-of-your-brain/
www.theatlantic.com/education/archive/2016/08/the-new-bilingualism/494489/

Adaptação

A entrada da criança pequena na escola é um momento muito especial.  Um mundo de possibilidades se abre: novos espaços, novas relações, novos brinquedos, aventuras, histórias e diversas atividades. No entanto, por ser tudo muito novo e desconhecido, será preciso tempo  e tranquilidade para que a criança se sinta bem.

Por isso, aqui na Builders trabalhamos da seguinte forma:

Nos dois primeiros dias, um dos responsáveis acompanha toda a rotina, durante duas horas.

Desta maneira garantimos que a criança se sentirá à vontade para explorar o espaço e ir, aos poucos, conhecendo a nossa equipe e os coleguinhas.

Nos três dias seguintes convidamos os pais a se afastar, respeitando o ritmo de cada aluno, mas incentivando-os a se soltarem um pouco mais.

Na segunda semana os alunos ficam três horas na escola e os pais se afastam mais ainda, permanecendo no espaço escolar se necessário, mas já não mais junto com os pequenos.

O tempo pode variar, pois nosso foco é que a criança fique bem, mas normalmente esse tempo é suficiente para adaptar todos os alunos.

Após alguns chorinhos iniciais, que fazem parte do processo, as crianças costumam se adaptar bem e logo estarão adorando a escola. Mas saibam que, para que esse processo transcorra de forma tranquila, a atitude positiva e confiante dos pais é fundamental.

Lembrem-se: pais são modelos – se demonstram insegurança, os filhos ficarão inseguros também e tudo será mais difícil.

Todo esse processo de adaptação é muito importante, porque na maioria dos casos a vinda para a escola representa uma primeira grande mudança na rotina familiar. A criança passa a ficar mais tempo longe de casa, num espaço diferente e com muitos desafios.

Com os pais transmitindo confiança e segurança, os vínculos e a rotina se estabelecem em pouco tempo.

A escola tem profissionais experientes, que acolhem, propõem estratégias, respondem dúvidas e transmitem confiança, ajudando os pais e alunos a se sentirem seguros de que fizeram a escolha certa.

Sigam as orientações da nossa equipe, pois este momento é muito especial!

Esse aprendizado servirá para toda a vida, por isso é tão importante.

 

Marieta Lefèvre

Coordenadora Pedagógica Educação Infantil

Pedagoga, Psicóloga e Psicopedagoga Infantil

Relações de gênero na escola

As desigualdades de gênero impostas no nosso dia a dia são fruto de uma consciência e paradigma já “pré-estabelecidos” que foram construídos e vem sendo mantidos há tempos. Opressão, perpetuação de estereótipos, violência física e psicológica são apenas alguns exemplos das consequências da falta de preocupação com a abordagem desta temática desde a infância.

Entre as idades de 3 e 5 anos, as crianças começam a desenvolver sua identidade de gênero e começam a entender a diferença entre “menino e menina”. Quase imediatamente depois de se tornarem cientes disso, começam a desenvolver “estereótipos”, que se aplicam a si mesmos e aos outros, em uma tentativa de dar sentido e ganhar a compreensão sobre a sua própria identidade. Esses estereótipos são razoavelmente bem desenvolvidos entre os 5 e 7 anos de idade, tornando este um período crítico para lidar com a temática. Quando internalizados, os estereótipos negativos impactam no entendimento que a criança tem do mundo a sua volta; na sua autoestima; e até mesmo em seu desempenho acadêmico. É, portanto, papel do educador desenvolver um senso positivo a respeito das questões de gênero e igualdade, trabalhando ativamente para neutralizar preconceitos e reduzir danos, contribuindo para a construção de uma infância sem violência física, psicológica e autônoma.

Por que educar as crianças para a igualdade de gênero?

Pensar em estratégias para formar o educador para lidar com tais questões podem contribuir para uma educação voltada ao respeito, liberdade, empatia, menos violenta e opressora. Quando abordados desde cedo, os temas trazem uma elucidação a questões como igualdade de direitos e liberdades, reconhecendo e valorizando meninos e meninas, em suas individualidades. O trabalho com igualdade de gêneros e empoderamento infantil promove o respeito pelos desejos e expressões de cada um, contribuindo com o rompimento de relações de dominação.

O estabelecimento de igualdade de direitos e respeito entre homens e mulheres está diretamente relacionado com o desenvolvimento das sociedades. Ao longo dos tempos, muitas mulheres lutaram – e ainda lutam – para que o seu papel no mundo seja valorizado, de uma forma justa. Estamos diante de um momento decisivo na história da educação. Devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade cultural, de formas de vida e novas manifestações, somos uma comunidade com um destino comum. É preciso então somar forças para gerar uma sociedade sustentável baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para este fim, é imperativo que nós declaremos nossa responsabilidade com as futuras gerações. Se quisermos que as crianças cresçam socialmente conscientes é preciso educá-las para compreender e defender a igualdade de gênero.

A educação é um pilar necessário para a construção de uma infância baseada no respeito, tanto dentro como fora da escola, que desconstrua paradigmas e ideias pré-estabelecidas. As crianças observam, absorvem e, consequentemente, perpetuam muitos padrões, atitudes e discursos. Trabalhar a desconstrução desses padrões é garantir que elas cresçam em segurança para exercerem sua individualidade, livres de preconceito, violência e confiantes para ser o que quiserem – como quiserem.

Então como ?

Esta não é uma tarefa fácil – e nem há manual de instrução de como fazê-lo. Devemos, então, ficar atentos a nossas ações diárias – que refletem e reforçam estas desigualdades. Primeiramente, cabe a nós, educadores, pais e comunidade escolar entender e descontruir os estereótipos de que todo o menino é forte, corajoso, destemido e líder, assim como também desconstruir que toda menina é frágil, delicada, princesa, linda, medrosa, obediente e sensível. Isso está presente em muitas das falas dos adultos e precisamos urgentemente parar de dizê-las: “Isso é coisa de menina”; “Menino não chora”; “Senta que nem mocinha”; “Isso é brincadeira de menina”; “Engole o choro”; “Você tem que ser forte, já é um homenzinho”; “Menina não fala essas coisas”; “Azul não é cor de menina”; “Rosa não é cor de menino”; “Boneca é coisa de menina” e etc.

Sobre isso, um trecho do livro Gênero, uma perspectiva global, de Raewyn Connell e Rebecca Pearse:
“Ideias sobre comportamentos adequados a cada gênero circulam constantemente, não apenas pelas mãos de legisladores, mas também nas atitudes de padres, pais, mães, professores, publicitários, donos de ponta de estoque, apresentadores de talk-shows e DJs. Eventos como a cerimônia do Oscar e o Super Bowl não são apenas consequências de nossas ideias sobre diferenças de gênero. Efetivamente, ajudam a criar essas diferenças ao exporem masculinidades e feminilidades exemplares.”

Existem outras pequenas – e grandes – atitudes que podem mudar a forma como ensinamos e lidamos com o assunto. Então aqui vai uma coletânea de sugestões:
· Apresentar os diferentes gêneros, famílias e culturas;
· Eliminar a discriminação em todas as suas formas;
· Trazer fatos/dados históricos sobre a desigualdade e luta das mulheres ao longo dos anos;
· Analisar o papel das mulheres apresentado nas mídias (propagandas, filmes, desenhos, brinquedos, etc);
· Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz;
· Assegurar – sempre – os direitos das mulheres para acabar com a violência contra elas;
· Promover a participação ativa de meninas e meninos neste processo;
· Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todos eles;
· Programar estratégias amplas para prevenir conflitos e usar a colaboração na resolução de problemas para administrar e resolver disputas;
· Empoderar as meninas: mediar e fornecer ferramentas que as auxiliem neste processo de protagonismo;

É preciso, mais do que nunca, educar as crianças para a liberdade.

Thatiana Passi
Educadora e aprendiz

Referências:

http://www.southernearlychildhood.org/upload/pdf/Why_Does_Gender_Matter_Counteracting_Stereotypes_With_Young_Children_Olaiya_E_Aina_and_Petronella_A_Cameron.pdf

https://teachunicef.org/sites/default/files/documents/units-lesson-plans/gender_equality_-_an_introduction.pdf

www.earthcharter.org

Alimentação na escola

A educação alimentar e nutricional é de extrema importância para a saúde, principalmente durante a fase escolar. É nessa fase que a criança passa a formar hábitos e comportamentos alimentares que persistirão no futuro e que poderão determinar ou não uma vida saudável.

A alimentação infantil sofre forte influência do padrão familiar, considerada a família como o primeiro núcleo de integração social do ser humano. Assim, a adequação da alimentação nos primeiros anos de vida depende do padrão e da disponibilidade alimentar da família. Mais adiante, a influência da escola, de outros grupos sociais e da publicidade na área de alimentos, se apresenta de forma mais intensa.

Alguns hábitos também são moldados posteriormente, tendo como base as preferências individuais, as quais são determinadas geneticamente e pelas experiências positivas e negativas vividas em relação à alimentação.

Crianças que por algum motivo não foram suficientemente incentivadas ou não tiveram hábitos saudáveis desde cedo, tendem a substituir refeições por lanches gordurosos ou alimentos industrializados com excesso de açúcar e sódio (guloseimas, biscoitos com alto teor de gorduras e açúcar, refrigerantes, etc.). Além disso, muitas vezes o consumo destes alimentos vem associado a hábitos sedentários, como assistir televisão e jogar videogame por prolongados períodos. Esta junção de fatores pode colaborar para o desenvolvimento de algumas doenças como obesidade, hipertensão arterial, anemia, diabetes, entre outras.

É muito comum que as crianças observem o comportamento dos adultos com que convivem e das outras crianças. Por esse motivo é importante que haja incentivo, dentro e fora da escola.

É necessário que os pais sejam bons exemplos quando em casa e que os professores, amigos e funcionários cumpram esse papel dentro da escola, pois de nada adianta servir uma alimentação equilibrada na escola se em casa o mesmo trabalho de educação alimentar é esquecido e vice-versa.

Muitas crianças e adolescentes passam a maior parte do dia na escola. Sendo assim, é importante que a escola forneça refeições equilibradas, saudáveis de acordo com as recomendações para cada idade, visando atender todas as necessidades nutricionais de cada aluno.

Considerando a escola como espaço de troca de vivências, a experiência alimentar neste âmbito pode ser levada ao núcleo familiar e, nesse aspecto, destaca-se o papel da educação nutricional. Uma escola promotora de saúde estimula, através da alimentação escolar, a busca por escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis.

Além disso, a alimentação adequada garante um rendimento satisfatório de aprendizagem durante as aulas. Crianças que não se alimentam bem, têm maior dificuldade de aprender e de se concentrar, ficam muito dispersas e sem disposição para realizar as atividades.

A escola pode implementar estratégias que promovam a boa alimentação, como:
· Inclusão de conteúdos de nutrição no currículo escolar (aulas com a nutricionista) e na formação de profissionais de ensino de forma a inserir nas atividades formais e informais do cotidiano escolar os conceitos básicos da alimentação saudável.
· Atividades didático-pedagógicas: O alimento pode ser inserido no processo educativo, não apenas em disciplinas relacionadas às ciências da biologia e da saúde, mas em todas as áreas do conhecimento.
· O contato com o alimento, através de dinâmicas e cultivo de hortas.

A alimentação escolar pode contribuir muito para a melhoria das condições nutricionais de crianças e jovens, diminuindo deficiências nutricionais e outros agravos relacionados ao consumo alimentar inadequado, melhorando significativamente o desempenho escolar, favorecendo crescimento e desenvolvimento adequados.

Andrea Adell Trench
Nutricionista Graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
Pós Graduação em Nutrição Materno Infantil pelo IMEN

O que é sustentabilidade?

Sustentabilidade é uma palavra que escutamos, vemos e lemos em diversos lugares hoje em dia, mas que se paramos para pensar, é difícil defini-la. Muitos ainda tem a ideia de que sustentabilidade é coleta seletiva, reciclagem, horta e consumo de água. Outros, já conhecem uma de suas definições mais clássicas: “o atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras”.

Isso não está errado. Porém eu, particularmente, gosto de outras duas definições. A primeira é uma relativamente simples, porém muito poderosa, que ouvi do Hélio Mattar, presidente do Akatu: “É o suficiente, para todos, em todos os lugares, sempre”. Cada aposto dessa frase nos dá uma riqueza de conceitos e ideias incrível: igualdade, efeitos e mudanças a longo prazo, simplicidade, justiça, consumo consciente, equilíbrio e por aí vai.

Outra definição complementar é a de que a sustentabilidade é o equilíbrio dos seres, de seus relacionamentos e do meio ambiente. Num ambiente sustentável, os seres (humanos ou não), devem viver com saúde e bem-estar. Além disso, a relação entre eles também deve ser harmônica e equilibrada. Imaginemos uma empresa onde existe fofoca, confrontos e mentiras. Será que é um ambiente sustentável de se viver? Por fim, mas não menos importante, é o ambiente em que esses seres vivem. Existem recursos para todos? É um ambiente que consegue se manter ao longo do tempo?

Podemos concluir, portanto, que “sustentabilidade” é algo mais complexo e sistêmico do que apenas consumo de energia, proteção a biodiversidade ou combate a poluição. Ela é um VALOR, que pode (e deve) ser considerada e de fato colocada em prática por TODOS em seus espaços de convívio e em suas escolhas individuais e coletivas.

E por que a sustentabilidade é um valor? Isso será assunto para nosso próximo post. Fique ligado!

Lívia Ribeiro

Engenheira Ambiental

Cultura Brasileira na Educação Infantil

      Entre as nações modernas, onde a escrita tem procedência sobre a oralidade, onde o livro constitui o principal veículo da herança cultural, durante muito tempo julgou-se que povos sem escrita eram povos sem cultura. Felizmente, esse conceito começou a mudar após a segunda guerra mundial, graças ao notável trabalho realizado por alguns dos grandes etnólogos do mundo. Ainda bem, já que no Brasil existem tantas comunidades que pensam o mundo, transmitem conhecimentos e se expressam segundo a lógica própria da oralidade.

      As crianças, por exemplo, aprendem sobre a cultura que não conhecem conversando e pensando sobre ela. Conhecer os hábitos, costumes e valores de vários povos ajuda as crianças a diferenciar e reconhecer marcas de sua própria cultura e a se familiarizar com o diferente, a conviver com a diversidade, aceitando-a como parte da vida. Essa aprendizagem se generaliza, constituindo-se como uma regra moral que organiza suas relações interpessoais e rege sua vida em sociedade e, nesse sentido, consideramos que a formação pessoal também está relacionada à formação social e cultural.

     Conhecer as diferenças entre os povos e suas culturas, respeitá-las e valorizá-las é fundamental na educação infantil. O modo como as diferenças são percebidas pela criança e pelo meio em que vivem têm um grande impacto na formação de sua personalidade e de sua auto-estima, já que sua identidade está em construção. Esse processo pressupõe a diferenciação: é na presença da diversidade que a criança se percebe como uma pessoa diferente do outro, e esse é um importante passo para a formação pessoal dos nossos alunos.

         As crianças na escola estudam sobre muitos assuntos e aprendem muito. É importante saber também sobre o Brasil, um Brasil a que poucas crianças têm acesso, de cultura diversa e de variedades. Quando falamos de Cultura Brasileira também falamos de História. Os contos de tradição oral são originários de diversas regiões do Brasil, que guardam diferenças nas narrativas e que são adaptados para as respectivas realidades sociais, artísticas e também linguísticas, ou seja, as histórias falam de um universo  maior. Um exemplo são as tantas histórias de princesas. O que é a história “A princesa do sono sem fim” e “A Bela Adormecida? São as mesmas? Parecem, mas são muito diferentes. O que tornam essas histórias tão diferentes são os episódios, os termos, as imagens, as expressões coloquiais que se identificam com um contexto cultural que lhes é próprio. Por isso achamos fundamental aqui na Builders trazer a Cultura Brasileira como portadora de conhecimentos do nosso país.

       Como educadores investimos para que conheçam e apreciem as diferentes produções artísticas e musicais e ouçam muitas histórias, originadas em diferentes regiões do país. As diferentes manifestações culturais são a base de todas as civilizações e seu reconhecimento ajuda a entender o caminhar da humanidade e o mundo em que vivemos. Conhecer é a melhor forma de esclarecer e informar sobre o diferente, para que não venha a ser motivo de estranhamento expresso na forma de chacotas, preconceitos ou discriminações.

       A realização do nosso trabalho com as crianças sobre a diversidade que compõe o povo brasileiro, as manifestações culturais deste país, possibilita que conheçam a história e a cultura dos vários povos que para cá vieram. Isso contribui para aumentar a visão de mundo do grupo. Há uma infinidade de perspectivas que podem ser escolhidas em função do perfil e dos interesses das crianças que compõem o grupo e, a partir disso, trabalhamos com  as danças, musicas, comidas e brincadeiras de diferentes regiões.

         É assim que acreditamos que deva ser o trabalho na Educação Infantil. Um contato maior com a cultura para informar sobre a própria cultura, contribuindo para a formação de crianças “letradas ao invés de crianças só alfabetizadas”.

Fernando Brandão

Professor de Cultura Brasileira

Exposição de arte também é para crianças

Iniciar a vida cultural das crianças requer envolvimento dos pais, apresentando e participando ativamente das visitas.

Filhos se interessando por arte desde cedo, frequentando (com gosto) museus e exposições, é o sonho da maioria das mães, não é mesmo?

Apesar disso, sempre bate a dúvida sobre a hora certa de iniciar os pequenos nas atividades culturais. Qual a idade adequada? Qual o conteúdo indicado para despertar o interesse? Quais exposições são melhores? Onde levar?

O primeiro detalhe a saber é que, para se acostumar desde sempre a viver em meio às artes, o ideal é que a criança seja inserida na programação cultural da família assim que ela for liberada pelo pediatra para frequentar espaços fechados.

“Há museus que recebem bebês a partir de 3 meses para visitas sensoriais”, conta Tatiana Levy, gerente socioeducativa do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil (MIAN), um desses exemplos.

As crianças vão mesmo começar a se interessar pelo assunto lá por volta dos 3 anos, quando cabe a você falar sobre o que é um museu, para que ele serve, comentar sobre a exposição a ser vista – se for de um artista publicado, vale mostrar o livro, o site ou o e-book com imagens das obras.

Assim, o pequeno começará a relacionar a visita à exposição de arte a uma experiência positiva e concreta, pois o interesse e a apreciação pelo que ele está conhecendo vai ser muito mais intenso.

Ao escolher a exposição, opte por aquelas que envolvam toda a família ou que tenham uma conexão natural com os gostos da criança. Qualquer evento artístico pode ser legal, desde que o interesse por ela seja real, intrínseco.

Pode ser uma exposição de arte, de ciência, de história ou qualquer outra que seu filho ache interessante.

Pequenas, mas importantes, regrinhas:

Antes de ir a qualquer exposição, é recomendado dar uma olhada no site da instituição para saber se existem regras ou dicas especiais para os pequenos – se são oferecidas visitas mediadas, atividades e oficinas, por exemplo.

Um pouco antes da entrada, é bacana explicar as regras à criança, como respeitar as faixas de demarcação, usar um tom de voz mais baixo e só tocar no que for permitido.

Durante a exposição, mostre as obras, aponte o que atrai ou repele em você e peça para seu filho interagir também, falando o que chama a atenção dele. É válido contar sobre quem a fez, mostrar figuras humanas, cores, bichos ou até contar uma história inspirada pela obra. Só o necessário.

“A interação entre pais e filhos é muito importante, mas não é necessário explicar tudo. Às vezes, explicações demais estragam a experiência estética, o prazer de descobrir e a curiosidade natural das crianças”, explica Tatiana.

A gerente socioeducativa também recomenda dizer apenas a explicação técnica: sobre o pintor, o objeto, a época, a técnica usada, o contexto histórico, o lugar de onde ele veio e, principalmente, sobre como a obra ou objeto faz os visitantes se sentirem.

É interessante, também, fazer algo pós-exposição, como conversar com a criança sobre a vivência ou pedir para que ela faça um desenho para estimular e prolongar essa experiência. Em casa, sugira brincadeiras, como montar uma exposição caseira utilizando objetos de mesma cor, ou construir obras com peças de montar.

Vale usar a imaginação pois, brincando, como é natural e necessário ao desenvolvimento infantil, a criança vai entendendo o fazer artístico, o colecionismo, os motivos de expor, e frequentar exposições será um programa bacana e significativo para ela.

Thais Rossi

Professora de Artes

O cantinho do pensamento adianta?

Muitas pessoas me perguntam sobre os castigos, se é certo dar uma palmadinha de vez em quando, se o “cantinho do pensamento”, ou “cadeirinha do limite” resolvem. Enfim, o que fazer quando os filhos e alunos desobedecem.

Em primeiro lugar, creio que o mais importante seja dizer que não se deve bater nos filhos, aliás, não se deve bater em ninguém. Bater é covardia, é uma forma muito primitiva de resolver conflitos. Nós, humanos, dotados de capacidade de pensamento, temos que ter outras formas de solucionar impasses.

Quando um pai ou uma mãe batem numa criança, mesmo que ela desobedeça, estão mostrando que perderam o controle da situação, estão fracos.

Além disso, estão passando uma mensagem para ela, de que isso é permitido, estão autorizando a violência. Sim, porque pais são modelos, se os pais fazem, a criança também tem direito de fazer. Quando pais batem em filhos, estão sendo covardes… é uma mão grande batendo numa criança pequena.

E não resolve, só gera medo. Vocês acham bom que os filhos tenham medo dos pais?

E o “cantinho do pensamento?”, adianta?

Bom, qual é a finalidade de mandarem a criança “pensar” a cada ato errado que ela fizer? Quem garante que lá no cantinho ela está realmente pensando no assunto, que sabe por que está sendo punida? Muitas crianças relatam que gostam de ir para o cantinho, assim têm tempo para pensarem na vida… em tudo, menos na questão que as levou para lá.

Cantinhos do pensamento não adiantam, não resolvem. Podem até solucionar o conflito na hora, mas não educam, não geram aprendizado nenhum.

Vejam algumas dicas:

Crianças precisam conhecer as regras de antemão, seja da casa, ou da escola. Isso dá segurança, assim elas mesmas sabem quais são as expectativas em relação a elas.

As regras precisam ser claras e objetivas, criança não entende quando adultos falam demais.

Ao conhecê-las, também precisam saber quais serão as consequências em caso de descumprimento dessas regras.

Sabendo quais são as expectativas que temos em relação ao comportamento e as consequências em caso de não cumprimento, a criança compreende melhor sua responsabilidade, ou seja, que tem que fazer a sua parte no acordo.

Não é necessário criar um “cantinho do pensamento”, mas é sim cumprir o que foi combinado, pois isso será fundamental para que, numa próxima vez, a criança saiba que as consequências acontecem mesmo e que podem não ser boas para ela.

Pedir desculpas, de coração, também faz parte das responsabilidades das crianças. É necessário mostrar que algumas atitudes magoam, chateiam ou até dão raiva nas outras pessoas e que o pedido de desculpas, se não resolve, atenua, faz parte da boa educação e é regra de convivência social.

O cumprimento dos combinados é fundamental, pois quando os adultos ameaçam, ameaçam, mas nunca cumprem, as crianças logo captam essa dinâmica e, sabendo da impunidade, desobedecem, pois os adultos perdem credibilidade.

Vale ressaltar que, se seus filhos (ou alunos) andam desobedecendo demais, se vocês têm usado o cantinho como estratégia quase diária, certamente seus métodos não estão eficazes. Reavaliem seus sistemas, talvez seja a hora de ameaçar menos e ser mais firme nas decisões.

Lembrem-se: bater não é o caminho, castigar não é o caminho. Pode até não traumatizar, mas não é justo.

Conversem, dialoguem, combinem, deem responsabilidades, cobrem.

Ofereçam modelos de boa educação, de respeito, de diálogo.

Isso funciona!

Marieta Lefèvre
Coordenadora Pedagógica Educação Infantil
Pedagoga, psicóloga e Psicopedagoga Infantil