Como escutar o que as crianças têm a dizer?

Por Tatiana Pereira de Almeida*

Se você convive com crianças, há de concordar com uma coisa: elas têm muita energia! Seja para usufruir o seu tempo com brincadeiras (imaginárias ou mais voltadas à movimentação corporal e social), seja para se comunicar (por meios gestuais, verbais, afetuosos ou de escrita). As crianças falam muito. E isso é ótimo!

Mas até que ponto, nós, adultos, escutamos o que elas têm a nos dizer? Somos apenas ouvintes ou nos esforçamos em entender, dando importância ao que elas querem nos passar?

Você ouve ou escuta?

Em primeiro lugar, precisamos saber a diferença entre ouvir e escutar. Ouvir é algo que fazemos a todo o momento; é perceber os “barulhos” ao nosso redor, o que o ouvido capta. Já escutar, é prestar a devida atenção no que se está ouvindo, é decodificar os sons e assimilá-los.

Muitas vezes somos surpreendidos pelo o que as crianças nos falam. Em meio à correria do cotidiano, em alguns momentos, podemos não saber direcionar uma resposta válida ao que a criança nos diz ou não achamos oportuno ter um olhar mais atencioso a isso. Porém, prestar atenção ao que elas têm a falar faz parte do seu processo de educação. Valorizar o que as crianças têm a nos dizer é uma forma de aprendermos com elas e de apreendermos suas inquietudes e alegrias, de compreender seu modo de agir e pensar.

Aprenda a ouvir com os olhos!

O princípio básico para saber escutar qualquer pessoa não é, inicialmente, o de utilizar a audição e tudo que a engloba, mas sim, o simples fato de olhar frontalmente nos olhos do seu interlocutor. A partir do momento que um adulto realiza essa ação, as crianças notam a importância que ele está dando ao que elas desejam contar. Diante disso, as crianças se sentirão mais seguras e motivadas a expressar suas necessidades, indagações e contentamentos, uma vez que notam a ação de escuta do adulto.

Sabe-se também que, quando um adulto repete o que a criança disse, ela também perceberá que foi de fato escutada. Essa ação é essencial, pois pode evitar que o adulto interprete de outra forma a fala da criança ou dela mesma perceber que não se expressou da maneira desejada. Com esse trabalho de repetição, a criança poderá desenvolver novas formas de expressar o que sente e o que quer para que o adulto possa compreendê-la melhor.  

É quase como uma receita de bolo. O adulto, iniciando um contato visual com a criança, já transmite a ela que terá um espaço para falar e ser escutada. Se for uma conquista importante ou um acontecimento alegre, o adulto pode enaltecer o que ela disse, expressar o quanto está orgulhoso, dizer um elogio construtivo, parabenizá-la ou demonstrar que está feliz pelo o que escutou. Se for algo triste, uma chateação, o adulto pode tentar passar para a criança que compreende os seus sentimentos, acolhendo-a e demonstrando que, juntos, podem encontrar uma solução para a situação. Mesmo nos momentos em que algumas falas da criança possam parecer errôneas e imaginativas, o adulto deve escutar, discernir o que realmente faz jus àquela situação e questionar sobre os fatos.  

Evidentemente que cada situação é única, mas escutar e transmitir uma fala empática à criança, proporcionará ao adulto uma relação muito mais próxima e saudável com ela, influenciando de forma positiva no seu desenvolvimento e formação integral. Como completa Faber & Mazlish (2003, p.36), “só quando nossas palavras são imbuídas de sentimentos reais de empatia é que falam direto ao coração da criança”.

*Tatiana Pereira de Almeida é pedagoga e faz parte da equipe do Ensino Fundamental da Builders Educação Bilíngue.

Espaços inovadores na escola: funcionam?

Sala inovadora mulituso na escola Builders Educação Bilíngue

Por Ana Célia A.M. Campos*

Em matéria de capa recente, a revista Veja São Paulo publicou uma interessante matéria sobre os arrojados projetos arquitetônicos para as escolas. Tratam-se de construções em que privilegiam-se os princípios de sustentabilidade, o uso de espaços livres para as aulas, a convivência entre os alunos e a conectividade. O tema é muito oportuno para uma reflexão sobre os caminhos da educação.

Comecemos pelo perfil dos alunos. A era digital está alterando a maneira como todos nós, especialmente os mais jovens, consumimos conteúdo e adquirimos conhecimento. É inevitável então que os processos pedagógicos se adaptem a fim de despertar o interesse dos estudantes pela escola. À figura do professor que transmite conteúdo, soma-se a do facilitador. Ao caderno de anotações, juntam-se ferramentas tecnológicas que facilitam a pesquisa e permitem a conectividade.

Lado a lado com os recursos tecnológicos estão os espaços onde as aulas, ou melhor, as interações acontecem. Os projetos mais inovadores consideram os impactos que os elementos físicos (design, TI, som, temperatura, qualidade do ar, iluminação, suportes para o corpo) exercem sobre os alunos, professores, colaboradores e também a comunidade onde a escola está inserida. É comprovado que um ambiente agradável afeta a forma como os alunos se envolvem com as atividades e os relacionamentos se desenvolvem.

Dito isso, voltemos à pergunta do título. Os espaços inovadores na escola funcionam? Sim, funcionam muito, são muito mais que tendência e representam a maneira mais moderna e eficiente de ensino.

Na Builders, apostamos na combinação de elementos arquitetônicos inovadores, tecnologia de ponta e proposta pedagógica, que privilegia o desenvolvimento de competências e a capacidade de utilizar os conteúdos de forma ampla, há algum tempo. Por isso, podemos afirmar que as salas inovadoras, com menos carteiras e mais espaço para a convivência dos alunos, criam ambientes de ensino mais informais e interativos. O uso de locais como horta e terraço para as aulas permite levar para a realidade os ensinamentos dos livros, transformando a relação teoria e prática mais viva.

Estamos falando de uma “revolução” na educação. Um processo que se adapta às demandas de um mercado cada vez mais focado em experiências. E aqui falamos da experiência do aluno. Quanto mais reais e interativas elas forem, melhor o aprendizado e mais preparada estará a criança para lidar com a vida.

*Ana Célia A.M. Campos é Diretora Pedagógica das escolas Builders Educação Bilíngue e Garatuja Educação Infantil

A importância da música para o aprendizado


Por Sabrina Stampar*

A música presente na educação vem ao longo de sua história atendendo a vários propósitos: desde a formação de hábitos, como lavar as mãos antes do lanche, até a memorização de conteúdos, as letras do alfabeto e números, por exemplo. É também muito utilizada para a realização de eventos relativos a datas comemorativas, como dia do índio, do soldado.

Porém, a participação da música nas escolas deve exercer papel mais do que ornamental para animar festas e comemorações. Ela deve trabalhar, juntamente com as outras disciplinas, para o desenvolvimento motor, conhecimento e identificação dos efeitos sonoros, visuais, estéticos, plásticos, desabrochar da criatividade e da sensibilidade e muito mais.

A exploração dos movimentos auxilia na capacidade de organização espacial do próprio corpo, dos objetos e do tempo que cercam uma criança. Os instrumentos e objetos, inclusive objetos do cotidiano como colheres e copos,  devem auxiliar nas atividades trazendo uma diversidade de sons, timbres e ritmos novos e interessantes para o universo sonoro que os cerca.

O aprendizado sobre as propriedades do som (altura, duração, timbre e intensidade) exerce papel fundamental na formação de uma criança, pois por meio de atividades como a identificação de sons graves ou agudos, longos ou curtos a criança desenvolverá uma ampla capacidade de percepção, coordenação e identificação do mundo que a cerca.

A apreciação musical e o conhecimento de sua história também exercem papel importante na formação de uma criança, pois auxiliam na formação dos valores, consciência crítica, capacidade de criação e improvisação.

A música não deve ser vista como um produto pronto, que se aprende a reproduzir, mas sim como uma linguagem que se constrói juntamente com o conhecimento da própria vida, sendo assim uma forma interessante e dinâmica de aprendizado para as crianças.

 

*Sabrina Stampar é professora bilíngue de música

Educação Bilíngue na Infância

Muitos pais, ao procurar um colégio para seus filhos, estão priorizando aqueles que oferecem educação bilíngue. A criança é a maior beneficiada nessa escolha por diversos motivos.
Desde muito cedo a criança irá aprender que existem diferentes formas de se expressar em uma mesma situação, o que aumenta a sua capacidade cognitiva, desenvolvendo também a imaginação. Aliás, o exercício diário de pensar em duas línguas faz com que o aluno desenvolva diferentes competências e saiba usá-las nos momentos apropriados.
Outro fator é a comunicação. Com um vocabulário mais amplo, a capacidade de se fazer entender durante uma conversa é nítida, seja na língua materna ou no segundo idioma. Além disso, o indivíduos bilíngues possuem mais facilidade para aprender novos idiomas.
De modo geral, a criança bilíngue apresenta diversas habilidades desde os primeiros anos de aprendizado. Inclusive, hoje já existem estudos que indicam que problemas relacionados ao Alzheimer demoram mais para aparecer entre bilíngues.
A fase da primeira infância, que vai até os seis anos de idade, é marcada por intensos processos de desenvolvimento. Aproveitar esse período para ensinar de forma natural fará diferença em toda a vida acadêmica dos alunos.
Na Builders oferecemos um ambiente preparado para isso, com aulas em Português e Inglês desde um ano de idade. Venha conhecer nossa escola, na Rua Ribeiro de Barros, 128 – Vila Anglo Brasileira, São Paulo. Ou entre em contato através do telefone 11 3872.3999 e agende uma visita.

Inglês e currículo diversificado estão entre as apostas

Colégio investe em aula bilíngue a partir do 6º ano; nas tradicionais, ‘quem não se movimentar’ perderá aluno, diz presidente de entidade.

Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo
07 Janeiro 2018 | 03h00

SÃO PAULO – A chegada das novas escolas com perfil internacional – e a possibilidade de outras que podem abrir em breve – tem feito os colégios tradicionais investirem. Um dos maiores focos é a intensificação do ensino do inglês, mesmo em instituições que não são bilíngues. Além disso, os colégios têm diversificado currículos e aulas.

“Quem não se movimentar vai perder aluno”, diz o presidente da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar) e diretor do Colégio Bandeirantes, Mauro Aguiar. Desde que soube da chegada de novas escolas à cidade, a instituição está reformando as salas de aula para que tenham divisórias flexíveis, que permitem múltiplos usos, com menores ou maiores grupos. O Bandeirantes também passou a formar professores com uma nova concepção de ensino de Ciências, mais integrada, sem separação por disciplinas.

A Avenues “roubou” uma professora do colégio e tentou levar um coordenador. “No geral, o saldo vai ser positivo. Escolas como a Avenues estão trazendo concepções avançadas de educação”, diz Aguiar.

O Colégio Móbile, na Vila Nova Conceição, começou a ampliar em 2017 a quantidade de horas oferecidas de ensino de Inglês desde o ensino infantil. Incluiu também a língua em disciplinas de Artes e Ciência.

Outros, como Marista Arquidiocesano e o Dante Alighieri, apostam em parcerias com instituições estrangeiras cujos professores dão aulas no contraturno de algumas disciplinas, em inglês. Os programas são chamados no mercado de high school e os alunos recebem também um diploma americano de ensino médio.

O Colégio Magno, no Jardim Marajoara, zona sul, terá também este ano o chamado middle school, que tem o mesmo princípio, só que oferece aulas em inglês a partir do 6.º ano. O high school já existe no colégio há alguns anos e hoje 70% dos estudantes do ensino médio participam do programa, que é opcional e pago separado.

“O inglês é fundamental hoje. Muitos pais querem que seus filhos façam faculdade fora do Brasil” diz a diretora do Magno, Myriam Tricate. A escola também introduziu aulas mistas, em que conteúdos de Matemática e Física, por exemplo, são dados em inglês. “Uma escola que não investe nessa tendência internacional fica para trás.”

Diretora da Organização das Escolas Bilíngues de São Paulo (Oebi), Ana Célia Mustafá Campos acredita que os novos colégios vão profissionalizar o mercado. “Hoje há uma preocupação em colocar o inglês e muita gente se denominando bilíngue. Mas, na verdade, muitas só dão aula em inglês, não fazem um ensino bilíngue.”

Palestras. Ela vê como positivo o fato de a Avenues ter oferecido em 2017 algumas palestras abertas para professores de qualquer escola sobre bilinguismo e currículo inovador. “É uma estratégia de marketing, mas também discute muito bem o assunto.” Segundo a escola, além da formação, os eventos ajudaram a conhecer eventuais futuros candidatos a professores.

Fonte: http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,ingles-e-curriculo-diversificado-estao-entre-as-apostas,70002141029

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Inovação é a cara da Builders

Por Ana Luiza Azevedo, que é pedagoga, psicopedagoga e trabalha na Builders há 16 anos.

Começamos 2017 com uma nova proposta para as salas de aula de Inglês do Ensino Fundamental e percebemos que para algumas famílias causou um certo estranhamento. Como assim, os alunos não teriam mesa e cadeira para sentar o dia inteiro? Mas eles vão escrever no chão? E a postura? E a letra? E a concentração? Mas vão mudar de sala?

Foram diversos questionamentos nos primeiros dias e semanas. Eles foram importantes e nos fizeram refletir ainda mais sobre o que estávamos fazendo. Até porquê, quem trabalha na área, já sabe que não há receita pronta.

No entanto, apesar de não haver receita, já tínhamos algumas certezas. Sabemos que é muito desconfortável sentarmos durante mais de 1 hora na mesma posição, independente de qual seja ela. A concentração tem muito mais relação com o interesse na atividade do que onde estamos sentados. O trabalho em grupo é proveitoso para as crianças, que ampliam a sua capacidade de comunicação, discussão, reflexão, levantamento de hipóteses e interação, habilidades tão importantes hoje em dia.

O mundo está mudando e a maneira como nos relacionamos com o conhecimento também. Nós, professores, precisamos admitir que não sabemos tudo e não temos todas as respostas. Nossos alunos aparecem com demandas que não tinham antes e, quando nos perguntamos de onde vem tudo isso, chegamos à conclusão que é o conhecimento. Hoje, temos um acesso ao conhecimento e informação que não tínhamos antes. Qualquer dúvida é tirada em questão de segundos com uma simples pesquisa em um celular.

Dessa forma, um modelo de educação em que o professor fica na frente da sala, anotando na lousa e os alunos copiando faz cada vez menos sentido. É preciso mudar esse conceito. Que tipo de aula vai fazer com que nossos alunos queiram aprender? Essa sim é a pergunta mais importante.

A inovação é entendida como a aplicação de melhores soluções que atendam aos novos requisitos. Uma vez que a educação tem novos requisitos, pois os alunos têm novos interesses e possibilidades, precisamos pensar em novos modelos.

Após um ano de trabalho nesse formato e depois dos nossos alunos terem se adaptado à mudança de espaço físico, vejo o quanto o fato de ter mobilidade fez diferença para os alunos do 3º ano. Na sala de Inglês eles puderam interagir e se comunicar mais, causando um reflexo imediato no uso da língua, afinal estavam usando a linguagem de maneira muito mais contextualizada. Também tiveram oportunidade de ler e escrever e entrar em contato com todos os conteúdos propostos sem prejuízo.

Não há receita, o que há é uma vontade enorme de trazer para a comunidade novas experiências e despertar a alegria e o interesse em aprender, independente da mobília.

 

 

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Jogos e brincadeiras: construção do conhecimento

Por Fernando Brandão – Professor de Cultura Brasileira

A brincadeira como atividade dominante da infância é, primordialmente, a forma pela qual a criança começa a aprender, é onde tem início a formação de seus processos de imaginação ativa e, onde ela se apropria das funções sociais e das normas de comportamento que correspondem às pessoas.   

A brincadeira é o lugar principal da aprendizagem. Na medida em que vão crescendo, as crianças trazem para elas o que veem, escutam, observam e experimentam. As brincadeiras ficam mais interessantes quando as crianças podem combinar os diversos conhecimentos a que tiveram acesso. Nessas combinações, muitas vezes inusitadas aos olhos dos adultos, as crianças revelam suas visões de mundo, suas descobertas.

Através do simbólico, do jogo e da brincadeira, a criança irá entender o mundo ao redor, testar habilidades físicas (correr, pular), funções sociais (ser o construtor, a enfermeira, a secretária), aprender as regras, colher os resultados positivos ou negativos dos seus feitos (ganhar, perder, cair), registrando o que deve ou não repetir nas próximas oportunidades (ter mais calma, não ser teimoso). A aprendizagem da linguagem e a habilidade motora de uma criança também são desenvolvidas durante o brincar.

O brinquedo contribui no desenvolvimento da criança e no processo de ensino aprendizagem, pois estimula a capacidade de imaginação e criatividade e com isso a criança exterioriza sentimentos e vontades com base na vida real, ou seja, ele é um motivo para a ação.

Também permite que as crianças aprendam a conviver respeitando as diferenças, objetivo muito importante para o seu desenvolvimento, pois atitudes de tolerância e respeito surgem do afeto e do conhecimento mútuos.

Nas brincadeiras infantis, as crianças conseguem integrar as diferenças de modo a cada uma jogar em função das suas capacidades e características, sem maiores problemas. Pode ser que surjam dificuldades posteriormente, se antes não tiveram a possibilidade de experimentar estas relações de convivência e aceitação mútua. Apesar de ter suas particularidades, estas tendências são igualmente perceptíveis em relação às diferenças de capacidade intelectual, de gênero, sociais e culturais. Desenvolver estas qualidades implica uma vontade explícita de intervenção educativa, tanto na família como na escola ou noutros âmbitos da comunidade, uma vez que os valores das atividades lúdicas refletem os da sociedade.

Não é obra do acaso que o princípio 7.º da Declaração Universal dos Direitos da Criança reconhece a importância do brincar, equiparando-a a direitos tão reconhecidos como a alimentação ou a saúde.

É necessário valorizar a brincadeira desde o nascimento da criança como elemento para a construção de ações sensório-motoras. Pela brincadeira a criança aprende a se movimentar, falar e desenvolver estratégias para solucionar problemas.

A brincadeira permite extravasar sentimentos, auxilia na reflexão sobre a situação, criando várias alternativas de conduta para o desfecho mais satisfatório ao seu desejo.

O ato de brincar com outras crianças favorece o entendimento de certos princípios da vida, como o de colaboração, divisão, liderança, obediência às regras e competição. Jogar irá permitir à criança realizar o seu eu, construindo assim a sua personalidade e desenvolvendo a linguagem.              

A importância da educação física na infância

Por Pedro Solano (Professor de Educação Física da Builders)

Quando falamos em educação física, muitas vezes as pessoas a relacionam somente com a prática livre de alguma atividade esportiva, recreativa ou a prática de  jogos, como parte de um intervalo durante um dia letivo. Não muito incomum, ouço também comentários do tipo “ ah, na educação física você simplesmente joga uma bola e deixa as crianças correrem atrás.”

Creio que há algum tempo atrás, isso realmente acontecia, e hoje em dia, infelizmente, isso ainda ocorre em algumas instituições de ensino. Vale lembrar que há poucos anos a disciplina não era obrigatória no currículo escolar, e graças à lei 10.328/96 a obrigatoriedade foi retomada. Porém, em alguns casos, ela ainda é facultativa.

Mesmo com a obrigatoriedade, apesar da importância do assunto no desenvolvimento infantil, a educação física escolar ainda é marginalizada no sistema educativo. Em alguns casos, secretarias vêm diminuindo a oferta da disciplina e prefeituras retirando professores de determinados ciclos da educação, por uma questão de economia. Isso faz com que pessoas não especializadas apliquem a matéria, colocando em risco a saúde e o desenvolvimento geral do aluno.

É sabido que a educação das crianças e jovens se faz de forma integral. O ser humano não é divisível em corpo e espírito, ele forma um todo psíquico e orgânico. Então, por que, de modo geral, a disciplina Educação Física está sendo deixada em segundo plano nas políticas educacionais? Por que vem diminuindo o número de sessões semanais e não se tem dado a devida importância para o assunto?

Diante desse quadro preocupante que ainda acontece em muitos lugares, resolvi escrever sobre esse tema: a importância da educação física na infância. E salientar que procuro colocar em prática na escola, todos os componentes que essa fascinante matéria pode proporcionar aos alunos e contribuir para o desenvolvimento integral de cada indivíduo.

Educação física, como o próprio nome sugere, é a educação do corpo. Nós, como seres humanos, realizamos diariamente diversas habilidades motoras, sem ao mesmo nos darmos conta que estamos realizando esses movimentos. O simples caminhar, subir uma escada, desviar de um buraco na calçada, são ações que realizamos e que requerem um mínimo de controle motor. Essas ações se tornam automáticas, porém quando um indivíduo foi estimulado em sua infância, essas e muitas outras questões se tornam perceptíveis. Com qual naturalidade se executa um movimento? Quanto tempo demorou para percebermos um obstáculo. Talvez se uma pessoa apresenta uma dificuldade em lidar com alguma situação, isso pode ser explicado pela pouca ou até mesmo falta de estímulos que recebeu durante sua vida. E é exatamente aí que a educação física faz a diferença.

Vários elementos fazem parte da disciplina. Não são apenas jogos, brincadeiras tradicionais e esportes que compõem a educação física escolar. O desenvolvimento de diversas habilidades motoras, como agilidade, controle corporal, flexibilidade, ritmos entre outros, devem ser trabalhados, de maneira que o aluno tenha a oportunidade de experimentar diversas situações. Eles devem também ter a oportunidade de explorar diversos tipos de sensações, emoções e desafios. Vale lembrar que quanto maior forem as variáveis e maior for o leque de opções motoras, melhor será o desenvolvimento de cada indivíduo.

Jogos e brincadeiras tradicionais são uma excelente ferramenta para que os alunos possam vivenciar algumas situações importantes para o seu desenvolvimento. Com eles é possível desenvolver estratégias, maneiras de resolver problemas, além de permitir com que as crianças respeitem regras, as entendam e possam colocá-las em prática.

Nos esportes, os alunos têm a oportunidade de trabalhar também dois conceitos de extrema importância e que se não for dada a devida atenção, pode gerar problemas futuros: a vitória e a derrota. Desde muito pequenos, essas duas palavras geram verdadeiros conflitos entre os alunos. Desde uma simples corrida, a um complexo jogo de regras quando mais velhos, a vitória e a derrota caminham juntos com a realidade nas aulas de educação física. Cabe ao professor interferir nesse assunto, explicando os reais valores e o que cada um significa. E a importância que cada um exerce. Vale lembrar que para uma criança, saber perder é tão difícil quanto saber ganhar. Trabalhando esses valores desde o início, a possibilidade de desenvolvermos indivíduos mais preparados para os desafios que a vida nos oferece é maior e mais real. E é exatamente isso que a educação física deve fazer. Preparar os alunos para o que está por vir.

Além dessas questões já citadas, muitas outras estão no contexto. O desenvolvimento do ritmo por exemplo, é uma importante ferramenta para o aluno. Com ele, as movimentações corporais a exploração corporal se tornam mais dinâmicas e completas. Diversos ritmos devem ser trabalhados, permitindo com que o corpo possa estar apto a identificar e executar diversas movimentações.

O desenvolvimento das habilidades motoras básicas, como o andar, correr, rastejar, pular, entre outras, também devem ser trabalhadas. Aliás, são questões de extrema importância, pois são essas habilidades que vão formar a base motora dos indivíduos. Se não forem corretamente estimuladas, isso pode comprometer o desenvolvimento das atividades já mencionadas anteriormente como jogos, brincadeiras tradicionais e ritmos. Como uma criança poderá jogar um jogo de perseguição por exemplo, se não foi devidamente estimulada em relação à noção espacial? Ou mesmo consciência corporal? Para que isso se torne possível, esse desenvolvimento deve acontecer integralmente, desde os primeiros passos, até a fase adulta.

Outro aspecto de extrema importância que a educação física escolar abrange é a que diz respeito à socialização. Muito se sabe sobre as dificuldades de relacionamento que podem existir entre as pessoas, e o quão nocivo isso pode ser para a sociedade em geral. Casos de intolerância, desrespeito, egoísmo e principalmente, falta de compaixão pelo próximo, podem ser sim, diminuídos e até mesmo evitados, com a correta prática da educação física. Dentro de uma quadra, podemos representar situações que encontraremos ao longo de nossas vidas. O precisar de uma outra pessoa, ajudar, ser ajudado. São variáveis que acontecem dentro e fora das quatro linhas. Quando uma criança sabe lidar com frustrações que acontecem em um simples jogo, ou em uma atividade em que ele depende de sucesso e vem o insucesso, isso pode refletir em ações futuras. O simples fato de aprenderem a respeitar uma fila, esperando a sua vez para realizar um arremesso, se torna uma valiosa ferramenta para moldarmos o caráter e índole de um futuro adulto. Já pensou entrarmos no banco, com uma fila considerável, e uma pessoa entrar e furar a fila? Empurrando e xingando todos os outros que ali estão há longos minutos? Se isso já aconteceu com você , muito provavelmente essa pessoa não teve a oportunidade de vivenciar essa situação em sua infância. Pequenos detalhes fazem a diferença.

Se formos parar para pensar, essas e outras situações são muito presentes e comuns em nossa rotina. As pessoas agem de maneiras diferentes, cada um com sua maneira de pensar, cada um com sua expressão corporal, cada uma com sua bagagem emocional. Cada indivíduo tem a sua própria identidade, sua própria maneira de encarar desafios, de expressar suas emoções e de reagir diante de cada situação.

Mas tenho certeza que aquela pessoa que, aliada à sua educação, teve uma boa vivência nas aulas de educação física, que consegue colocar em prática tudo aquilo que aprendeu durante sua vida letiva, com certeza vai conseguir encarar algumas situações de maneira mais equilibrada, natural e saudável, pois como diz o próprio nome da matéria, teve sua educação física completa e satisfatória.

Fico muito feliz em fazer parte dessa importante etapa da educação dos alunos. Tento de todas as maneiras fazer com que eles se desenvolvam de maneira integral, dando a oportunidade de eles participarem, se expressarem e colocarem em prática tudo aquilo que eu ensino. É uma responsabilidade e uma honra muito grande e agradeço do fundo do coração a confiança que no meu trabalho é depositada. Aprendo muito com os alunos, e acredito que essa troca seja de extrema importância, para chegarmos ao nosso objetivo final: o de educar e ser constantemente educado, e sermos capazes de tornar o mundo um pouco melhor e mais justo.