De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ansiedade atinge 9% da população brasileira, e os casos em pacientes mais jovens vêm aumentando. Cerca de 10% de todas as crianças e adolescentes têm (ou terão) algum tipo de ansiedade, de acordo com pesquisa desenvolvida por Fernando Asbahr, professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.
Ansiedade é uma reação que todo indivíduo experimenta diante de algumas situações do dia a dia, como falar em público, expectativa de uma viagem ou festa de aniversário, vésperas de provas, exames de saúde. Algumas pessoas, porém, vivenciam essa reação de forma mais frequente e intensa, que pode ser considerada patológica e comprometer a saúde emocional.
De acordo com o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais), os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionadas.
Medo é a resposta emocional à ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura. O medo é com mais frequência associado a períodos de excitabilidade aumentada, necessária para luta ou fuga, pensamentos de perigo imediato e comportamentos de fuga. Os ataques de pânico se destacam dentro dos transtornos de ansiedade como um tipo particular de resposta ao medo. Já a ansiedade é mais frequentemente associada à tensão muscular e vigilância, em preparação para perigo futuro e comportamentos de cautela ou fuga.
Em crianças e adolescentes, os quadros mais frequentes são o transtorno de ansiedade de separação (TAS), o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e as fobias específicas (FE), sendo a social a de maior incidência.
Reconhecendo os sinais
O TAS caracteriza-se por uma angústia excessiva da criança ao se separar dos pais e é mais comum em crianças menores, entre seis e oito anos de idade. Cenas dramáticas ocorrem durante despedidas. Depois que os pais vão embora, a criança fica com ideia fixa no reencontro: ela precisa saber onde estão e fica com medo de que algo terrível aconteça. Viajar sozinha incomoda, e ela pode se recusar a ir à escola, acampamento, a uma visita ou a dormir na casa de amigos. É comum o desenvolvimento de sintomas físicos, como dores de cabeça ou de estômago.
Já o TAG aparece mais comumente em adolescentes, mas pode afetar pessoas de todas as idades. É um quadro de preocupação excessiva ou expectativa apreensiva, persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses no mínimo e vem acompanhado por três ou mais dos seguintes sintomas: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular e perturbação do sono.
As FE são bastante comuns: medo de animais, avião, elevador, trovão. Podem se transformar em transtornos de pânico e fobias sociais quando não identificadas e tratadas adequadamente.
Apesar da existência de um quadro clínico para cada um, a maioria das crianças apresentará mais de um transtorno ansioso, a chamada comorbidade. A ansiedade pode até atrapalhar o desenvolvimento, mas o problema é quando altera o dia a dia impedindo a criança de ir para a escola, de entrar numa loja, ou trazendo problemas de convivência.
Os gatilhos
Podem existir aspectos biológicos envolvidos, porém o comportamento dos pais é bastante relevante. Pais ansiosos influenciam sim a saúde dos filhos.Se há muita cobrança, expectativa e pressão constantes para que a criança seja feliz 100% do tempo, tenha notas excelentes e eficiência máxima em tudo, a tendência é que os pequenos se tornem vítimas de uma ansiedade constante, pelo medo de falhar e de não cumprir com as expectativas dos pais. Por outro lado, se a família consegue filtrar demandas e informações, provavelmente terá maiores chances de criar filhos que saibam lidar melhor com expectativas e realidade.
É possível apontar ainda as características da vida digital, que tem “criado” crianças desacostumadas a esperar. Quem nasceu a partir de 2010, vive o imediatismo, já que a tecnologia dita o rumo das relações. Dessa forma, a paciência tornou-se uma qualidade que não se desenvolve sozinha. Cabe às famílias e à escola envolvê-las em situações e brincadeiras que promovam a vivência do raciocínio e espera.
Mais conexões
Nos casos mais sérios, a família deve buscar auxílio especializado. Na própria escola, é possível encontrar uma rede de apoio que irá ajudá-la a encontrar o melhor caminho. “Meu papel como Orientadora Educacional na Builders é ajudar os alunos a reconhecer os próprios sentimentos e saber o que fazer com eles. Os projetos socioemocionais trabalhados vão gerar autoconhecimento e desenvolver habilidades importantes na resolução dos conflitos internos. A parceria com as famílias é fundamental neste processo para, juntos, entendermos o momento e a particularidade de cada criança. Há situações em que o encaminhamento para um especialista é necessário, porém sempre com o acompanhamento próximo da escola para que a criança conquiste um conviver mais saudável e harmonioso”, explica Cristina Zanetti.
Ela pontua que as coisas mais simples da vida são as que promovem a maior conexão da criança consigo mesma e com as pessoas ao seu redor. “O brincar ao ar livre de pé no chão, o contato com a natureza, o desconectar-se da tecnologia, o permitir-se relaxar e respirar são atitudes que devem estar no cotidiano de crianças e adultos”, pontua. “Esses são momentos importantes de troca de afeto, que fortalecem a relação entre pais e filhos, em que as cobranças e pressões são deixadas de lado. São momentos que trazem conforto e equilíbrio, aliviando a ansiedade e resgatando a qualidade de vida!”, finaliza.
Fonte: