Após 3 meses de aulas on-line, algumas famílias ainda lidam com a falta de interesse das crianças e que agora soma-se à desmotivação por tanto tempo longe dos amigos. Como enfrentar e resolver esse desafio? Dica: o problema pode não estar no formato da aula.
Primeira infância: por que ela é tão importante?
Começamos este artigo convidando você a assistir um trecho do documentário “O começo da vida”. Um registro emocionante da importância dos primeiros anos de vida de uma criança para o seu desenvolvimento cerebral. Clique aqui para assistir.
O que chamamos de primeira infância compreende os primeiros seis anos de vida de um ser humano. Essa é também a primeira etapa da educação básica, constituída pela educação infantil, que tem o propósito de desenvolver integralmente a criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social.
A importância dos estímulos na primeira infância está evidenciada por pesquisas recentes da neurociência que comprovam que os bebês aprendem mais nos primeiros três anos de vida do que aprenderão no resto da sua vida. Eles são sensíveis a todas as informações que acontecem ao seu redor e começam muito cedo seu aprendizado sobre o mundo, desde os períodos pré-natal, perinatal (imediatamente antes e após o nascimento) e pós-natal.
Na primeira infância, as respostas são mais rápidas, intensas e duradouras. Isso não significa que o cérebro não responda a estímulos em outros períodos da vida. O desenvolvimento acontece continuamente, em todas as idades, mas são mais lentas e menos intensas e duradouras.
De quais estímulos estamos falando?
Talvez o termo que melhor define esse período de alto desenvolvimento seja plasticidade cerebral. O cérebro ainda está em formação, e os estímulos adequados influem no funcionamento e na sua própria arquitetura. O aprendizado de idiomas é um ótimo exemplo da plasticidade do cérebro na primeira infância. Para mais informações sobre a educação bilíngue, clique aqui.
Como o documentário mostra, os estímulos já começam na barriga da mãe. O afeto e carinho, a música, uma base emocional sólida e um olhar que cuida, mas também educa. Por sinal, um aspecto interessante a notar é que, há até pouco tempo, o verbo para o período de 0 a 3 anos de idade era cuidar. Pelos novos conhecimentos da neurociência, os verbos cuidar e educar devem ser dosados na mesma medida, conforme apresentado também nas Diretrizes do Conselho Nacional de Educação para a primeira infância.
O estímulo na primeira infância tem a função de desenvolver as potencialidades das crianças e é realizado por meio de experiências, que chamamos de brincadeiras, é a construção de conhecimento de forma lúdica.
As crianças são observadoras. Elas têm hipóteses sobre como as coisas acontecem e fazem experimentos para se certificar de que suas hipóteses estão corretas. E a brincadeira exercita a criatividade, estimula a imaginação e permite a expressão dos sentimentos. É por meio do brinquedo, de brincadeiras, de jogos, de exercícios que beneficiaremos o potencial cerebral da criança, e uma criança adequadamente estimulada tem mais capacidade de aprendizagem e facilidade em adaptar-se ao seu meio e de relacionar-se com as outras pessoas.
Educação com amor: o que é a aprendizagem socioemocional?
Em um bate-papo delicioso com Ana Célia Mustafá Campos, diretora pedagógica da Builders, falamos sobre o que é a Educação Através do Amor, ideologia que nasceu com a escola há mais de 20 anos. Confira a seguir esse bate-papo delicioso.
Como surgiu a ideologia da Educação Através do Amor?
Eu e minhas irmãs sempre tivemos o sonho de ter uma escola, e nossas experiências anteriores como educadoras nos mostraram que o elemento socioemocional é fundamental para o desenvolvimento das crianças no ambiente escolar. Também sempre buscamos trabalhar com o que há de mais inovador na área. Alguns anos antes de abrirmos a Builders, vimos o quão impactante foi a implementação do conceito de aprendizagem socioemocional na rede escolar norte-americana, por volta de 1994. Logo, o nosso projeto de escola sempre esteve ligado à proposta da Educação Através do Amor, que significa garantir que o processo de ensino e aprendizagem seja permeado de carinho, atenção e disponibilidade para ouvir o aluno.
Em quais fundamentos ela se baseia?
O principal é o autoconhecimento. Ele auxiliará em todos os aspectos da vida de qualquer ser humano: nas tomadas de decisões, na maneira de conduzir os relacionamentos, no autocuidado ou no contato com o ambiente onde está inserido.
Como preparar o educador para a Educação Através do Amor?
Ao iniciar esse processo, o educador se depara com a tarefa do autoconhecimento, que mencionei anteriormente. Isso significa que precisa estar consciente de suas emoções (especialmente as negativas) e limitações. Ao se descobrir, passa a se aceitar, mas sem deixar de lado a busca pelo aprimoramento que irá guiá-lo por um caminho mais suave. Quando o educador abraça a Educação Através do Amor, dedica-se aos seus alunos da mesma maneira que se dedica a si próprio.
Como funciona na prática?
Estimulamos todos os colaboradores a manter uma alimentação equilibrada, se exercitar, cuidar da saúde e do espaço que utilizam e estar em contato com a natureza. Eles têm à disposição os programas de bem-estar, com aulas gratuitas de inglês, português, yoga e fitness, e de educação socioemocional com nossa Orientadora Educacional. Os espaços físicos da escola, como o solarium, são projetados para que possam desfrutar momentos de relaxamento. Para nós, os conceitos de Educação Através do Amor e sustentabilidade se complementam inteiramente; isso se não puderem ser considerados sinônimos. A partir disso, os colaboradores desenvolvem um olhar mais empático e cuidadoso com o colega de trabalho, os alunos e suas famílias, amigos, parceiros.
Isso significa então que a sustentabilidade vai além do cuidado com a natureza?
Sim. O conceito é muito mais amplo. Para nós, é o equilíbrio entre os seres, suas relações e o meio em que vivem. O mesmo cuidado que tenho com um outro ser humano é o que terei no contato com a natureza e vice-versa. É isso que permite que formemos cidadãos conscientes, justos e que não vejam valor apenas naquilo que traz benefício individual, mas no que beneficia a todos.
E como aplicar a ideologia no ensino das crianças?
Em termos de programas oferecidos, temos praticamente os mesmos que mencionei para os colaboradores. Além disso, os alunos têm cinco minutos de meditação antes de cada aula. A Orientadora Educacional desenvolve várias atividades, de acordo com a faixa etária da criança, com o objetivo de despertar o autoconhecimento, a abertura para discutir sentimentos e o olhar empático e respeitoso com as outras pessoas. Ela também está sempre disponível para uma conversa individual com os alunos. Nossos professores exercem o papel de mediadores, ou seja, eles não são donos da razão, eles entendem e promovem a troca de conhecimentos. Afinal, aprendemos muito com as crianças. Esse posicionamento faz com que o aluno não tenha medo de falar, de expor suas ideias, pois sabe que é capaz e não será julgado.
E isso também tem a ver com a educação do século XXI, não?
Sem dúvida. É muito interessante ver que o que aplicamos há 20 anos é visto como tendência hoje. Acredito que o advento de novas tecnologias, que ampliaram o papel da comunicação, e o uso de smartphones e redes sociais contribuíram nesse processo de repensar a educação. A forma como crianças e adultos buscam informações mudou completamente. É por isso que hoje se fala tanto do aluno e escola do século XXI. Basicamente, isso quer dizer que as instituições de ensino devem prover ambientes educacionais que favoreçam a troca e pesquisa. Fisicamente, falamos de sair do formato tradicional da sala de aula com carteiras, um quadro negro e o professor lá na frente, como detentor único do conhecimento. O que vale são os espaços flexíveis, multiuso, que permitam a interação dos alunos com o professor e colegas. E, mais uma vez, o professor vira mediador.
Fisicamente, como a Builders se preparou para essa mudança?
Sempre enxergamos a educação como troca de conhecimentos para que as pessoas vivam e se desenvolvam de forma mais harmoniosa, e os nossos espaços foram projetados para esse fim. Sobre os espaços inovadores, sempre investimos na renovação das nossas instalações e há alguns anos estamos transformando os espaços, acompanhando as mais modernas tendências em educação. Já possuíamos algumas salas inovadoras, que permitem o uso flexível e para fins variados, e outras foram inauguradas este ano com a entrega do novo prédio. Mas as aulas não ficam restritas a esses locais. Nossos educadores têm à disposição ambientes como o terraço, solarium, horta, biblioteca, sala de artes, quadra e parques cobertos e descobertos, por exemplo, para conduzir suas atividades.
Por fim, como você vê a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC)?
Temos grandes evoluções. O projeto foi aprovado em 2017, e as escolas estão discutindo como implementar as novas resoluções até 2020, que é o prazo oficial. O maior ganho foi inserir o ensino socioemocional no currículo. O maior desafio está em preparar o corpo docente para essa nova realidade. Falamos de profissionais habituados a exercer um formato de ensino que está mudando. São pessoas muito competentes, mas que precisam de suporte e treinamento para exercer plenamente o novo papel que lhes será exigido. Particularmente para a Builders, essa transição é tranquila, pois a educação socioemocional e a ideologia da Educação Através do Amor são a mesma coisa. Ou seja, ela já está em nosso DNA. É só uma comprovação de que sempre estivemos no caminho certo.
Educação bilíngue: quando e onde começar
Ao começar o processo de alfabetização, as crianças já têm pleno domínio verbal sobre a língua. A comunicação é feita perfeitamente, mesmo a criança não sabendo ler e escrever. Quando o aluno estuda em um colégio bilíngue, desde muito cedo é estabelecida a comunicação no segundo idioma e, naturalmente, ele vai aprendendo e fazendo as distinções necessárias para o entendimento do português e da nova língua.
Criança difícil: você sabe como lidar?
Muitos pais e mães se queixam que seu filho é difícil, que costuma se comportar de forma inadequada, batendo, tendo acessos de raiva, falando palavrões ou simplesmente desobedecendo.
Claro que nenhuma criança é igual à outra, e não existe receita, mas certamente o caminho para lidar com crianças difíceis passa pela comunicação e pelo afeto.
Algumas crianças manifestam comportamentos difíceis desde pequenininhos: acordando várias vezes à noite, chorando muito, demonstrando braveza quando contrariados.
Muitos pais, por sua vez, não sabendo lidar com os caprichos infantis acabam sendo manipulados, não colocam limites e fazem de tudo para agradar o filho, tornando-o uma criança mimada – o reizinho da casa!
Criança sem rótulos, com limites
Limites claros são muito importantes. São a base principal para desenvolver uma convivência harmoniosa e saudável entre pais e filhos.
Converse com seu filho sobre a importância do cumprimento de regras e façam combinados, assim vão evitar muitos conflitos. Por outro lado, fique atento, pois regras muito rígidas não são saudáveis e podem causar retraimento, raiva, desrespeito e até mesmo rebeldia. Ouça o que seu filho tem a dizer. Diga ao seu filho o que você pensa e espera dele. O diálogo é fundamental!
Educar não é nada fácil e dá trabalho, sobretudo quando vivemos em uma sociedade que estimula tanto a competitividade. A constante comparação que fazemos do nosso filho com o próprio irmão, primo, coleguinha de classe ou vizinho é muito negativa, causa baixa autoestima e pode desenvolver ansiedade. Cada criança é única e diferente das demais. Deve ser respeitada no seu jeito de ser e jamais diminuída, rotulada ou ridicularizada.
Crianças que apresentam problemas de comportamento geralmente tem dificuldades para lidar com as próprias emoções. Ajudar a identificar e nomear os sentimentos é algo que faz com que a criança se sinta amparada e cuidada. Ensinar que cada emoção pode ser transformada em uma palavra é a chave que deve orientar as crianças – primeiro para compreenderem a si mesmas e depois, para entenderem o mundo.
Perceber que todo ser humano sente as mesmas emoções pode trazer um grande alívio, por isso converse com o seu filho contando quando e porquê você sentiu a mesma emoção que ele está sentindo. Conte também o que fez na ocasião para lidar com aquela emoção.
Saber o que fazer com cada emoção é um processo longo e adquirido através das vivências do dia a dia. Por isso não proteja demais o seu filho. Deixe que ele enfrente dificuldades, se decepcione e principalmente que sofra as pequenas frustrações para que aprenda a adiar a satisfação imediata; afinal, o mundo não será sempre como ele deseja.
A inteligência emocional não é nata, é uma habilidade que se aprende e precisa ser exercitada!
Por Cristina Navarenho Santos Zanetti, Educadora, Psicóloga e Orientadora Educacional nas escolas Builders Educação Bilíngue e Garatuja Educação Infantil