*Por Cristina Zanetti
Estamos vivendo dias muito difíceis e não são poucas as famílias que perderam um ente querido. Lidar com a perda em si já não é nada fácil, imagine então abordar o fato com uma criança. O que dizer?
Na nossa sociedade, existe uma espécie de pacto silencioso em que ninguém fala sobre a morte. Quando evitamos o assunto, estamos ensinando às crianças que elas também devem fugir dele. Precisamos quebrar esse costume. Falar sobre a morte deve ser algo natural e não um assunto proibido. A dificuldade maior em falar da morte está no adulto, não na criança. Elas conversam e depois de alguns minutos já estão brincando novamente.
Para conversar com as crianças sobre a morte, é preciso muito mais ouvir e acolher do que falar. Dar espaço para perguntas também é importante, e as respostas devem variar conforme as crenças e costumes de cada família. É preciso mostrar que você, adulto, aguenta o que ela está te trazendo de tristeza e medo. Pode parecer uma ação pequena, mas é de enorme importância!
Falar sobre a pessoa que se foi, contar sobre as situações que viveram juntos e mostrar fotos são maneiras de reforçar para a criança que seu vínculo de amor e afeto se mantém, apesar da falta da presença física, pois o familiar continua vivo em nossa memória e coração. Não é raro que crianças se preocupem e tenham medo de “esquecer” da pessoa que morreu; então, esse espaço de escuta precisa estar sempre ativo, principalmente durante o luto.
No momento atual, em que mesmo quem não perdeu alguém está vivenciando o luto coletivo diante do cenário de pandemia, a leitura de livros infantis são recursos valiosos para abordar o tema.
Dicas de livros
- Menina Nina – Duas razões para não chorar, texto e ilustrações de Ziraldo, Editora Melhoramentos.
- Roupa de brincar, de Eliandro Rocha, com ilustrações de Elma, Editora Pulo do Gato.
- No oco da avelã, Muriel Mingau, com ilustrações de Carmen Segovia, Edições SM.
- O segredo é não ter medo, Tatiana Belinky, com ilustrações de Guto Lacaz, Editora 34.
- O guarda-chuva do vovô, Carolina Moreyra, com ilustrações de Odilon Moraes, Editora DCL.
Não há como falar de morte sem falar de vida. A morte nos faz pensar nos valores mais importantes que norteiam a nossa existência. Pensar e refletir sobre a morte nos faz viver com mais intensidade a nossa própria vida. Quando nos reconhecemos como seres mortais, quando de certa maneira “nos preparamos para a morte vivendo bem a nossa vida”, ficamos em paz com essa realidade, comum a todos nós.
*Cristina Zanetti é orientadora educacional na Builders Educação Bilíngue e na Garatuja Educação.