Abuso infantil: como prevenir

Abuso infantil: vamos educar e proteger nossas crianças?

Por Cristina Zanetti*

O abuso infantil é um tema complicado e difícil de ser abordado, seja pelos tabus que o cercam, preconceito ou silêncio das vítimas que, muitas vezes, levam anos para contar a alguém sobre o ocorrido. Temas incômodos não devem ser interditados às crianças. É preciso conversar sobre morte, doença, tristeza, violência e abuso infantil. A escola, junto com as famílias, tem papel importante e não deve abrir mão dessa responsabilidade.

O objetivo do programa “Meu corpo é um tesouro”, desenvolvido na Builders com crianças de 4 a 10 anos de idade, é abrir um espaço dentro da escola para discutir o tema de uma forma bem lúdica. Histórias, desenhos e rodas de conversa são utilizados. Dessa forma, ensinamos as crianças a diferenciar um toque “OK” (de carinho) de um “NÃO OK” (erotizado) para prevenir e impedir o abuso. Elas também precisam saber nomear corretamente as partes do corpo, identificar o que é íntimo e não permitir que ninguém toque as suas partes íntimas ou, o contrário, que não toque nas partes íntimas de ninguém.

Abertura para falar e ouvir

Informadas, as crianças se sentem mais seguras e capazes de identificar o perigo. Assim, evitam situações de risco de abuso e opressão procurando ajuda de um adulto de confiança. Elas compreendem que não devem guardar esse tipo de segredo e possíveis vítimas se sentem empoderadas a falar. Romper o silêncio é uma forma ativa de lidar com o problema, impedindo que o abuso inicie ou que continue acontecendo.

O projeto também acaba incentivando pais e mães a conversar com seus filhos e filhas, e as famílias passam a ter uma escuta mais atenta. As crianças precisam saber que podem falar e que serão ouvidas em casa e na escola, sem julgamentos. Esse é um caminho importante para fortalecer ainda mais a relação de confiança das crianças com pais e professores.

Impedir os abusos na infância é tarefa de todos, por mais incômodo e difícil que seja. Vamos juntos nessa importante tarefa: prevenir e combater o abuso infantil!

Clique aqui para saber mais sobre o “Meu corpo é um tesouro”.

Conheça aqui todos os nossos programas de educação socioemocional.

*Cristina Zanetti é Orientadora Educacional da Builders Educação Bilíngue

Educação Socioemocional

Educação Socioemocional: os monstros que a gente cria!

Por Cristina Zanetti*

Quando algo não vai bem, quando estamos em um dia ruim ou quando tudo parece dar errado, podemos nos sentir tristes, irritados, com raiva ou medo. Pequenas coisas do dia a dia podem se transformar em grandes monstros na nossa cabeça. São monstros que nos atrapalham, nos machucam (machucam os outros) e nos fazem sofrer.

O programa da Builders Monstros que a gente cria foi pensado para acolher as emoções das crianças de 6 a 8 anos de idade. O objetivo é que se sintam seguras em compartilhar os próprios sentimentos e possam, aos poucos, perceber o impacto de suas atitudes no outro.

Clique aqui para saber mais sobre o programa Monstros que a gente cria.

Aprendendo a reconhecer os sentimentos

Chamamos a capacidade de identificar e nomear os sentimentos (em si e no outro) de alfabetização emocional. No entanto, esse processo vai muito além de enriquecer o vocabulário das crianças. Ele visa estimular o autoconhecimento e o desenvolvimento de importantes habilidades sociais. Por meio de histórias, vivências, desenhos e rodas de conversa, os alunos são convidados a refletir sobre o que sentem para que entrem em contato com seus “monstrinhos” internos.

É um projeto maravilhoso que extrapola as paredes da sala de aula. Podemos ver seu efeito nos corredores da escola! Percebemos que as crianças têm sua capacidade de diálogo ampliada, pois se posicionam mais e desenvolvem a capacidade de escuta. Dia desses ouvi a seguinte conversa entre dois meninos de 8 anos:

  • Por que você não está falando comigo?
  • Ué, você me ignorou quando eu te chamei lá na quadra!
  • Eu não!
  • Ignorou sim!
  • Eu nem ouvi você me chamando!
  • Chamei duas vezes!
  • Foi mal, nem percebi!

Algo muito além de empurrões ou do “professora, fulano está me ignorando!”, seguido de “pare com isso, fulano, peça desculpas agora”.

A importância de desenvolver a inteligência emocional é para a vida! Aprender a se colocar para o outro (e no lugar do outro) vai tornar as crianças mais sensíveis e abertas para as relações; vai aumentar a autoestima, a autoconfiança e vai diminuir os níveis de ansiedade e estresse, elevando a capacidade de resolver conflitos e desenvolvendo a habilidade de conviver em harmonia.

*Cristina Zanetti é Orientadora Educacional da Builders Educação Bilíngue

Socioemocional na escola

Socioemocional nas escolas: agora é lei!

Até 2020, todas as escolas brasileiras deverão incluir em seus currículos as habilidades socioemocionais, seguindo as novas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento oficial que orienta os currículos das escolas do Brasil (rede pública e privada).

Do ponto de vista educacional, as competências socioemocionais ajudam os alunos a lidar com os desafios e situações cotidianas. É um tipo de abordagem que promove o pensamento autônomo e suas potencialidades por meio do desenvolvimento do autoconhecimento, autocontrole e consciência social.

Resultados baseados em pesquisas

As habilidades socioemocionais ganharam reconhecimento nos últimos anos devido à percepção de que, quando os alunos aprendem a administrar as próprias emoções, é possível notar um impacto positivo na maneira como absorvem o conteúdo.

Recente estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com 9.608 alunos, de 10 a 17 anos de idade, analisou os níveis de autocontrole, empatia, autoconhecimento e habilidades sociais após terem participado do programa Semente, realizado em diversas escolas brasileiras com o objetivo de desenvolver o socioemocional de crianças e adolescentes. Impactos positivos foram verificados em todos os domínios avaliados: em empatia cognitiva emocional, variou 2,3%; em autoconhecimento, aumentou 13,5%; autocontrole, 13,9%, e as habilidades sociais, 7,2%.

O ensino de habilidades socioemocionais impacta também o desempenho nos estudos. De acordo com pesquisa do departamento de psicologia da Universidade de Chicago (EUA) realizada com 270 mil alunos da pré-escola ao ensino médio e submetidos ao aprendizado de competências socioemocionais, houve melhora de 11% em suas notas.

O preparo dos professores

Segundo o psiquiatra chileno Claudio Naranjo, indicado ao prêmio Nobel da Paz em 2015, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo quando uma didática afetuosa é adotada. Para ele, o educador tem função de levar o aluno a descobrir, refletir, debater e constatar. “Na Fundación Claudio Naranjo, criamos um método para formação de educadores baseado em mais de 40 anos de pesquisa. O objetivo é preparar professores para que se aproximem dos alunos de forma mais afetiva e amorosa, para que sejam capazes de conduzir as crianças ao desenvolvimento do autoconhecimento, respeitando suas características pessoais”, explica em entrevista à revista Época.

Para a diretora pedagógica Ana Célia Campos, a educação socioemocional requer um preparo diferente do educador, até então acostumado ao modelo de ensino focado na transmissão de informações, tendo o professor como o grande pilar de conhecimento. “Ao iniciar o processo da educação através do amor, o educador se depara com a tarefa do autoconhecimento. Isso significa que precisa estar consciente de suas emoções (especialmente as negativas) e limitações. Ao se descobrir, passa a se aceitar, mas sem deixar de lado a busca pelo aprimoramento que irá guiá-lo por um caminho mais suave em que dedica-se aos seus alunos da mesma maneira que se dedica a si próprio.

Para mais informações sobre a aprendizagem socioemocional, confira entrevista com Ana Célia Campos.

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Por que falar em autoconhecimento?

É início de primavera. Uma manhã ensolarada desponta. As crianças acabam de chegar na escola e se reúnem na sala para mais um dia de aula. A professora pede que todos se sentem em uma posição confortável, com as costas eretas, fechem os olhos e estejam atentos ao ritmo da respiração. Está começando uma sessão de meditação, momento de pausa para equilibrar as emoções.

Ao ser incorporada à rotina de qualquer ser humano, independente da idade, a meditação melhora a concentração, memória e qualidade do sono, aguça a percepção dos sentimentos, aumenta a autoestima e o controle emocional, sem falar na agradável sensação de relaxamento. Para as crianças, os efeitos são ainda mais expressivos, pois o cérebro, por estar em formação, é mais receptivo a estímulos. Na prática, isso se reflete em maior socialização, com impactos positivos no relacionamento com pais e colegas, e redução de sentimentos como raiva e tristeza.

Ciranda de emoções

Pega-pega, corre cutia, amarelinha, dança da cadeira, estátua, morto vivo. O que essas brincadeiras têm em comum? Alguém poderia dizer que colocam as crianças para correr. Outro, que ninguém mais lembra delas, pois fazem parte de um repertório infantil que não existe mais. Para a Academia Americana de Pediatria, elas são o remédio para o desenvolvimento mental e social, pois estimulam a linguagem, o relacionamento e a capacidade de resolução de problemas.

Um exemplo? Que tal brincar de faz de conta? A imaginação é estimulada, personagens são criados, sejam nas suas concepções psicológicas ou físicas. Ao criar histórias e enredos, as crianças exercitam sua capacidade de planejamento e resolução de problemas.

E os jogos eletrônicos, onde ficam? Os coletivos estimulam a inteligência emocional e ensinam lições, como aprender a ganhar e perder. Mas é muito comum vermos crianças e adolescentes (e adultos) isolados, com os rostos fixos em seus tablets ou smartphones, tendo como única interação a tela do aparelho, o que pode impactar a maneira como se relacionam e enxergam as adversidades da vida. É nesse sentido que as brincadeiras livres se diferenciam ao promover a conexão entre as crianças e ao estimular uma região do cérebro ligado à sensação de bem-estar e prazer, o que é um valioso antídoto anti-estresse. “Nosso cotidiano está bombardeado de informações e estímulos momentâneos, sendo a maioria no campo digital. Imagine ser uma criança ou adolescente nesse contexto”, pondera Ana Célia Mustafá Campos, diretora pedagógica. “O equilíbrio é a chave. Como pais e mães, devemos estimular em nossos filhos a conectividade como um recurso importante, mas sem deixar de lado a mágica das brincadeiras, de pular, correr, estar em contato com a natureza e com amigos. Isso é essencial para a formação dos valores e visão de vida das crianças”, conclui.

De frente para o problema

A hora do almoço está quase no fim. Em uma das mesas do refeitório, uma aluna conversa com o último pedaço da maçã que resta. Para justificar a demora em se alimentar, ela diz “Os adultos sempre brincam antes de comer.” E como ela sabe disso? “Eu sei de tudo. Eu sei tudo sobre minha mãe, mas ela não sabe tudo sobre mim.”

Essa frase pode ter diferentes interpretações. Mas um fato é que nós, adultos, muitas vezes menosprezamos a capacidade de compreensão das crianças e evitamos falar sobre os sentimentos, quando deveríamos fazer justamente o oposto.

“Ensinar que cada emoção pode ser transformada em uma palavra é a chave que deve orientar uma criança, primeiro para compreender a si mesma e depois para entender o mundo”, explica Cristina Zanetti, orientadora educacional. “Crianças que apresentam problemas de comportamento geralmente têm dificuldades para lidar com as próprias emoções. Ajudar a identificar e nomear os sentimentos é algo que faz com que elas se sintam amparadas e cuidadas”, completa.

Saber o que fazer com cada emoção é um processo longo e adquirido por meio das vivências do dia a dia. A superproteção é um problema, pois não permite que a criança enfrente dificuldades, se decepcione e sofra as pequenas frustrações. Afinal, isso é a vida e precisamos do autoconhecimento para encará-la de frente!

O autoconhecimento para a vida

O que a meditação, o yoga, as brincadeiras livres e a boa conversa sobre sentimentos nos ensinam? Que ao estimular o olhar para dentro, os momentos de introspecção e paz, na mesma medida que adicionamos mais diversão e conexão com o outro na vida das crianças, permitimos que elas se enxerguem em suas fortalezas e fraquezas. Que aprendam com os altos e baixos com mais serenidade. Que vejam a si e aos outros com mais paciência e amor. Pensando bem, essas lições se aplicam aos adultos também, não é mesmo?